terça-feira, 31 de março de 2009

"Mãe há só duas"

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Países como a Espanha, Holanda, Bélgica, Suécia, Noruega, Dinamarca, Canadá ou Reino Unido permitem a adopção de crianças por casais do mesmo sexo, alguns já há vários anos. E, a partir da próxima sexta-feira, o Reino Unido vai passar a permitir que as mulheres que recorrem a técnicas de procriação medicamente assistida (PMA), indiquem como “o outro pai (parent)” indistintamente um homem ou uma mulher. Vários outros países já o permitiam, mas a nova lei britânica, que entra em vigor no país que inventou a fertilização in vitro, vai ser mais um forte argumento de pressão para os que defendem a igualdade de direitos parentais entre casais hetero e homossexuais.
Mas, se há assunto que suscita paixões e argumentos arrebatados, é o dos direitos parentais dos homossexuais, mesmo que individualmente considerados, e – ainda mais – dos casais homossexuais. A prova disso é como, mesmo pessoas (e organizações) que defendem o casamento homossexual, param na fronteira da concessão dos direitos de adopção ou de recurso à PMA a casais do mesmo sexo. Não há muitos assuntos que nos interpelem tanto e sobre os quais receemos tanto decidir, como sociedade. Pelo que significam de alteração de papéis que nos habituámos a ouvir dizer que constituíam as fundações da nossa sociedade (e quem é que quer abanar as fundações da sociedade?) e pelos riscos que não estamos dispostos a fazer correr as nossas crianças. E, se há nos dois extremos “conservadores” e “liberais” com convicções definidas, há também, no meio, imensa gente que, mesmo quando é mais sensível a argumentos de um dos lados, se sente incapaz de tomar uma decisão. É particularmente curioso como muita gente que favorece os direitos dos homossexuais nesta matéria diz mais facilmente “penso que é algo que vai acabar por acontecer” do que avança uma declaração de apoio sem ambiguidades.
É o peso do argumento da “evolução natural” a fazer-se sentir. O receio de brincar a Deus ou aos engenheiros sociais. Mas não empurramos tantas vezes, para a frente ou para o lado, essa evolução natural das coisas e da sociedade?
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"Não podemos aceitar experimentalismos sociais, a criança não pode ser objecto de experiências mais ou menos vanguardistas ou correr riscos que poderão ser fatais. Não se trata de ser conservador, trata-se de aplicar um princípio de precaução que neste âmbito se justifica mais do que em qualquer outro.”
Apesar do que diz Vaz Patto, este é o argumento conservador por excelência, mas não é por isso que ele deve pesar menos. Pelo contrário, se há domínio onde a prudência, a escolha de soluções conhecidas e a recusa de riscos parece imperativa deve ser este. O argumento conservador parece aqui de grande sensatez.
Só que, quando a lei permite este tipo de soluções, ela não está a ser vanguardista ou experimentalista. A realidade é que há muitas crianças que vivem já e há muitos anos com pais homossexuais – ou com um progenitor biológico e o seu companheiro (ou companheira) ou nasceram já no âmbito de uma relação homossexual.
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A lei, mesmo quando parece avançada e mesmo quando é objecto de contestação, não está a fazer engenharia social, mas sim a enquadrar situações que existem no terreno e que até nem são tão raras como se pensa. Isto não significa que elas devam ser aceites por esse facto – há comportamentos que a sociedade reprova e que não vai legalizar apenas pelo facto de serem comuns. Mas significa que um dos argumentos mais vezes avançados contra as leis socialmente mais liberais – o de que vão abrir uma caixa de Pandora com consequências imprevisíveis – não tem muitas vezes razão de ser. A caixa de Pandora, se existe, já foi aberta há muito e ninguém reparou.
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“Há muitos estudos feitos desde os anos 70, tanto no Reino Unido como nos Estados Unidos, sobre o desenvolvimento das crianças educadas por casais do mesmo sexo”, diz-nos Susan Golombok, directora do Centro de Investigação sobre a Família da Universidade de Cambridge e uma das autoridades mundiais em famílias lésbicas. “Nessa altura não se sabia nada sobre isto e estes estudos foram desencadeados por casos judiciais de custódia de crianças em casos de divórcio. Mais tarde, com a difusão do recurso a PMA por parte de casais de lésbicas, houve uma proliferação de estudos. E a verdade é que estas crianças – e estes jovens, porque nós seguimos as crianças até à idade adulta – não apresentam diferenças significativas em relação a quaisquer outras do ponto de vista do bem-estar psicológico, do comportamento, do ponto de vista do desenvolvimento do género, da identidade de género, quer, especificamente, do ponto de vista da sua orientação sexual. Não há mais homossexuais entre os jovens que foram educados por um casal homossexual do que na população em geral.”
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É verdade que já há (sempre houve e hoje há mais ainda) famílias sem pais (e crianças criadas apenas pela mãe ou pela avó), mas nenhum pai pode imaginar sair de cena sem experimentar uma profunda sensação de perda – para si e para os seus filhos. Há uma morte simbólica do pai. Imaginar a nossa família sem nós não pode deixar de ser uma experiência de luto e é isso que alguns homens sentem ao imaginar-se excluídos do quadro onde sempre estiveram – e onde por vezes se imaginam ao centro, com a mão na espada e o olhar no horizonte. Mas a questão é que não se trata de expulsar do paraíso doméstico os homens que lá estão. A questão é simplesmente a de imaginar e construir outros universos domésticos onde não há homens. E o mesmo se poderia dizer das mães.
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“Aquela visão de sonho da família idealizada: um par heterossexual, duas pessoas jovens, bonitas, saudáveis, cultas, sofisticadas, bem formadas, que adoram os filhos, que nunca perdem a paciência, que nunca se zangam, que nunca se enganam, que nunca erram, que nunca se cansam – os YAVIS, Young, Attractive, Valuable, Inteligente and Sophisticated – não são a maioria das famílias e, se calhar, nem são nenhuma família, face a um olhar mais profundo”, diz Margarida Gaspar de Matos. “Não há famílias ‘excelentes’. A argumentação à volta da competência pessoal, afectiva, e social de um casal homossexual na educação de um filho parte unicamente de vários preconceitos e estereótipos que não resistem a uma observação mais profunda.”
Há outro aspecto já referido de passagem, mas que merece uma atenção mais profunda no caso de crianças filhas de duas mulheres: a pressão social. Mesmo que a sua vida familiar seja cheia de afecto e segurança, estimulante e equilibrada, o olhar dos outros, a censura, a discriminação não podem ser origem de sofrimento para as crianças?
“Penso que o único problema que surge no caso de os pais terem o mesmo sexo é mesmo a pressão social que se exerce sobre os pais e a criança”, diz Margarida Gaspar de Matos. “Esse peso da norma e da discriminação não é menosprezável e até pode ser muito invasivo. Só que o problema não está na identidade ou orientação sexual dos cuidadores, mas na energia que a criança tem de despender face a um ambiente hostil e culpabilizador.”
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A discriminação social, porém, dificilmente pode justificar uma atitude de obstáculo à parentalidade de casais de gays ou lésbicas. Se assim fosse, o mesmo princípio, em nome da protecção dos interessados contra a crítica, poderia ser usado para proibir qualquer situação que pudesse ser objecto de censura social. Estaríamos a somar uma agressão a outra.
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Enquanto o debate não se generaliza e os políticos não abordam a questão legislativa, e independentemente da opinião que cada um tenha, é importante lembrarmo-nos de uma coisa: casais de homens gays e de mulheres lésbicas já existem. Homossexuais sós que vivem com um ou mais filhos, biológicos ou não, também. Casais de mulheres ou de homens com um ou mais filhos, filhos biológicos de um deles ou adoptados, também existem. O que se irá discutir um dia é apenas como lhes vamos chamar e se o seu estatuto será assumido com honestidade pelo resto da sociedade, ou se teremos de continuar a encontrar eufemismos para falar da situação familiar destas pessoas que vivem à nossa volta, que são os nossos familiares, os nossos colegas, os nossos amigos, os nossos pais e os nossos filhos.


Vale a pena ler a noticia na totalidade.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Casas de abrigo

Será uma versão homossexual dos cerca de 40 espaços de acolhimento existentes destinados às mulheres vítimas de violência doméstica, em Portugal, com o intuito de servir de emergência social nos casos de jovens gays e lésbicas expulsos pelos próprios pais, que rejeitam a orientação sexual dos filhos.
O Instituto da Segurança Social (ISS) vai apoiar a constituição destas casas de abrigo, de forma a colmatar o crescente número de pedidos de auxílio que têm chegado nos últimos anos à Rede Ex aequo, associação de jovens lésbicas, gays, bissexuais e transgéneros. Segundo Edmundo Martinho, presidente do ISS, há a necessidade de se estabelecerem parcerias público-privadas com organizações homossexuais perante a maior consciencialização da violência física e psicológica que estes jovens sofrem dos progenitores.
"Não cabe à administração pública criar respostas. Mas terá o nosso apoio uma instituição particular de solidariedade social ou equiparada que se propuser a trabalhar com estes casos, a exemplo do que acontece com as parcerias de apoio às vítimas de violência doméstica", respondeu Edmundo Martinho, ontem, quando questionado pela porta-voz da Rede Ex aequo, Rita Paulos, durante a conferência "Políticas Integradas contra a Discriminação das Pessoas LGBT [lésbicas, gays, bissexuais e transgéneros], no Picoas Plaza, em Lisboa.
Ao JN, a dirigente daquela associação - constituída por jovens dos 16 aos 30 anos - adiantou que são cada vez mais os pedidos de auxílio que jovens homossexuais fazem chegar à Rede Ex aequo, devido à rejeição e agressões dos pais.
"Estes jovens entram num profundo estado de isolamento. É que se há pais violentos, que os agridem e os expulsam de casa, há depois todo um controlo que vai desde vasculhar o telemóvel até levar os filhos à escola, não lhe permitindo o seu espaço individual", explicou Rita Paulos, à margem daquela conferência, organizada pela Associação ILGA Portugal, que termina hoje.
De acordo com um inquérito realizado online a 614 jovens, ontem apresentado pela "Ex aequo", apenas 17,6% dos progenitores aceitam bem a sua opção sexual , perante os 58,5% de jovens que se afirmaram discriminados. Cerca de 90% dos inquiridos admitiram que deram conta da sua homossexualidade antes dos 21 anos e mais de metade admitiu que já teve ideias suicidas.
"Dos vários casos com que já fomos confrontados, lembro-me de um rapaz, de Lisboa, que nos contactou antes de tentar o suicídio. Depois de estar no hospital é que a mãe passou a aceitá-lo", frisou Rita Paulos, salientando que 10% dos jovens entrevistados responderam já ter tentado pôr fim à vida.

sábado, 28 de março de 2009

Luz, cheiro e despertares


Gosto de trovoada e gosto de ficar a ver relâmpagos [desde que esteja dentro de casa]. E ontem à noite trovejou aqui pelo Sul.

De início só vi assim pelo cantinho do olho, mas à medida que me aproximava de casa tive uma bela vista mesmo de frente. Confesso que fiquei meia volta completamente encadeada com os relâmpagos, tal não era a luminosidade em contraste com o céu preto.

A Matilde coitada, à falta de uma mãe em casa, foi se enroscar na cama da outra mãe com medo. Quando cá cheguei chovia a potes e via-se um ou outro relâmpago. Assim, depois de ter apanhado uma mini molha para entrar em casa, abri a janela e por lá estive a sentir o cheiro da chuva... Hmmm, tão bom! Parece que a Matilde também gosta que se foi pôr ao pé de mim com o focinho encostado à janela a cheirar lá para fora.


Noutro assunto que em nada está relacionado com o primeiro...

Que mania tem o nosso corpo de se habituar a horários! Irrita-me poder dormir no fim de semana um pouco mais, mas o meu corpo insisitir em acordar à mesma hora de sempre, independentemente da hora a que me deito. Ontem foi o caso, hoje repete-se a história e amanhã é provável que o mesmo aconteça.

E que mania a minha também, sejam que horas forem, de quando abro os olhos de saltar logo da cama. Ao menos, ao fim de semana, dá para aproveitar o sossego e apanhar solzinho (se for o caso e hoje até é).

Vou voltar ali para ao pé da janela e aproveitar o sol com a Matilde.
Bom fim de semana!

sábado, 21 de março de 2009

Omen

Vá... Fica lá com ideias. =P




[a data original do post não era esta, mas devido ao acidente por aqui perdi-a. e esta também faz algum sentido]

terça-feira, 17 de março de 2009

Voltamos à escolinha

Já chateia, mas vamos lá tentar outra vez...

Casamento/Matrimónio é um sacramento religioso. Vem da Igreja e é regido por ela e as suas "leis"/doutrinas e realmente pressupõem e apenas aceita que este seja entre um homem e uma mulher. Bom para eles!
Casamento civil é a "opção" dada pelo Estado a esse mesmo sacramento religioso (o matrimónio). É regido pelo Estado e as suas leis e não se relaciona, porque não pode nem deve, com o casamento religioso num Estado que é (ou pelo menos se quer) laico.E é deste último -o casamento civil- que se está a falar quando se fala de casamento entre pessoas do mesmo sexo. Por isso não me venham cá com conversa de "encher pneus" sobre a história do casamento já ter séculos de existência porque o que estão a falar é de matrimónio. Não misturemos alhos com bugalhos.

Difícil? Então agora que estes conceitozinhos estão claros, vamos lá tentar um outro exercício... Este já é mais dificil. Preparados? Vamos lá.

Para quem é contra porque não percebe porque raio é que os homossexuais se querem casar ou ter acesso ao casamento civil, porque vocês não o querem, pensem comigo...
Vocês não querem casar, mas se quisessem podiam (desde que seja com alguém do sexo oposto, está claro). Vocês não querem [Porreiro para vocês!], mas puderam escolher. Tiveram liberdade de escolha.
Já eu e muit@s outr@s, querendo ou não casar, não o podemos fazer. Não temos liberdade de escolha. Ou escolhemos não casar ou escolhemos não casar.

Entendido ou continua difícil?

quarta-feira, 11 de março de 2009

Magnolia

Engraçado... Estava exactamente no 12º ano quando arranjei o cd cortesia da D. Apesar de na altura durante meses ter sido a minha banda sonora, dia e noite, um dia foi para a estante e de lá nunca mais saiu... Até hoje.


"Quando tu apareceste/ Eu estava esquecida/ Nos perdidos e achados da vida/ Mas sentia-me bem/ Com a cabeça arrumada/ Não sentia falta de nada
(...)
a haver algo entre nós/ Era melhor ter cuidado
(...)
Quando tu apareceste/ Eu estava a sair/ Dos perdidos e achados da dor/ E sentia-me bem/ Com o corpo a descansar/ Dos altos e baixos do amor
(...)
um caso entre nós/ Era sempre perigoso/ O meu passado recente/ Tinha sido doloroso
(...)
A vida segue lá fora."

domingo, 1 de março de 2009

Momento da verdade

Depois das apostas terem sido feitas chegou a altura de repôr a verdade e ver quem leva a taça para casa, nesta coisa de dar palpites.
1) Fiz parte dos escuteiros. Falso. Fiz muitos desportos e actividades colectivas, mas escuteiros foi coisa da qual nunca fiz parte.
2) Fui a um mundial de vela. Verdade. Durante 10 anos fiz vela e no último fui ao mundial que por acaso foi no Algarve.
3) Bebi vinagre por escolha e não em desafio. Verdade. Decidi experimentar, mas a experiência durou para ai dois ou três dias. Gosto de vinagre, mas não assim tanto.
4) Fui à igreja/missa até aos 17 anos. Verdade. Não sou católica, não rezo nem vou à missa, mas andei num colégio de padres até entrar para a universidade e por isso havia bastantes festas e cerimónias em que tinha de ir à missa.
5) Adoro nadar no mar, mas não suporto piscinas. Verdade. Para quê nadar num espaço reduzido, quando se pode ter a imensidão do mar?
6) Já fui ver vários jogos da selecção ao estádio. Falso. Fui uma única vez na vida a um estádio de futebol, ver com o meu pai o jogo Portugal - Liechtenstein.
7) Tive um ouriço-cacheiro como animal de estimação. Verdade. Chamava-se Oscar, apareceu na rua e ficou lá por casa durante uns tempinhos e respondia ao nome. Depois numa noite fugiu.
8) Adoro morangos de todas as formas e feitios. Falso. Não suporto nada com morango (pastilhas, iogurtes, bebidas, etc) e morangos em si... Se tiver que ser, como-os, mas não aprecio.
9) Nunca parti nenhum osso. Verdade. Já tive o braço em gesso, andei de muletas e fiz fisioterapia... Mas as minhas quedas e acidentes acabam é por me provocar lesões musculares ou nos tendões/ligamentos, etc. Ossos partidos, nem por isso.

A a e a Pipoka acertaram em duas. Estiveram lá perto. A Orquídea acertou logo na primeira. E todas falharam com a aposta na 9.
Obrigada por participarem. ;)