quarta-feira, 28 de dezembro de 2005

Noite

A noite é dos pensadores, dos sonhadores, dos tristes, dos alegres, dos amantes e dos abandonados.Gosto da escuridão da noite e do que ela me traz: lembranças de tempos passados, recordações de um futuro apenas imaginado.A noite traz-me o silêncio, e é nele que escuto a vida: o choro de uma criança, o riso de uma pessoa, o cheiro nauseabundo que a terra emana, o ladrar dos cães, o barulho dos carros... É no silêncio da noite que se amplifica o barulho da vida, que se escuta com mais atenção o que nos rodeia, mesmo que não se esteja atento.É na noite que se gera a vida, não no dia.O dia é barulho desorganizado, caos ensurdecedor, turbilhão de pessoas autómatas que se movem com todos os seus passos mecanizados. Durante o dia as pessoas são robots, sem vida...Na noite não...É na noite que se entende a vida por se poder vê-la na sua verdadeira essência... Porque as pessoas são pessoas, porque se libertam e vivem, talvez por acharem que a escuridão as encobre... Mas para os observadores, a escuridão não encobre, mas faz surgir a luz do ser, a verdadeira beleza e natureza da vida.
É na noite que as pessoas ficam abandonadas, mas também são encontradas...
É na noite que se mostram os fantasmas, mas também é nela que os enfrentamos...
E talvez por isso tudo tenha tantas insónias...
Por não querer desperdiçar o tempo, a vida dada pela noite.
Por querer pensar ao abrigo da noite, da escuridão e do silêncio.
Por querer compreender o impossível, só atingivel durante a noite.
Sim, gosto da noite, por isto tudo e muito mais...

quinta-feira, 22 de dezembro de 2005

A neura...

Hoje é um daqueles dias...
Acorda-se com uma estranha sensação, não se sabe bem o que é, mas não se gosta dela.
Passa-se o dia todo isolada e a sensação vai aumentando...
Não sei porque estou assim... Tudo me irrita, tudo me cansa...
Ouvir música entristece...
Desenhar irrita, nada sai como quero...
Ler não consigo, pois falta a concentração...
Ver tv irrita... 54 canais e nada de jeito...
A net irrita...
O telemovel... As sms irritam, os telefonemas cansam...
Fui passear, gastar gasolina como gosto de dizer, pela "minha" serra.
Estava frio... Mas o frio, o desconforto interior era maior.
Passei o dia sem falar a ninguém, 3horas desligada do mundo...
Gastei gasolina nas estradas tortuosas da Arrábida, caminhei pelas praias silenciosas e vazias do Portinho, ouvi o bater ritmado e calmante das ondas na areia, admirei a vista do cimo da serra - Lisboa de um lado, mar a perder de vista do outro.
Mas dentro de mim mais tortuosos, mais barulhentos, mais desorganizados e menos calmos eram os caminhos que percorria... Parei para admirar a paisagem e iniciei a busca do motivo porque estava assim. Não cheguei a nenhuma conclusão.
Sei que não é de hoje, já vem de trás, mas não consigo perceber porque estou assim...
Cheguei a casa ao entardecer, não estava ninguém. Continuei com os meus pensamentos...
Perto da hora de jantar a casa encheu-se de gente, eramos os 5 habituais, mas para mim, hoje, era uma multidão... Demasiado barulho, demasiada confusão...
Disseram me que me tinha tornado uma pessoa egoísta, mas os motivos que me apresentam não fazem sentido. Sou egoísta porque já não sou o que era...
Mudei... Tenho vindo a mudar muito desde à 3 anos para cá, mas parece que quanto mais mudo, mais dificil se torna... A mudança nunca é fácil, mas parece que se torna mais dificil não para mim, mas para quem me rodeia..
Não posso ser a menina que era com 14/15 anos... As saudades que tenho dessa altura... Olhando para trás, foi uma época bem boa da minha vida! Mas cresci, aconteceu muita coisa desde essa altura, tive de mudar...

Mudei para pior? Sei que quando me olho há dias em que gosto do que vejo, na maior parte deles não.
Não encontro em mim muitas caracteristicas positivas, e dou sempre mais valor às negativas... Mas nunca considerei que egoismo fosse uma delas, e muito menos por me dizerem que o sou porque mudei...
Concluo que a minha mudança é negativa... É o que me dizem... Não percebo.
Para uns melhorei em certos aspectos, para outros apenas piorei. Não se pode agradar a todos, não posso pensar em agradá-los, mas as opiniões e sensações que provocam confundem me...
Tento mudar para melhor, mas parece que só pioro... Nada me sai bem.

Com a mudança melhorei e piorei. Mas acima de tudo, cresci.
Parece que certas pessoas não aceitam isso... Não posso voltar atrás, não posso apagar o passado... Não quero! Que é uma pessoa sem o seu passado?
Entristeço-me, penso desistir... Perdi me na mudança.
O sol poem-se, a noite chega... Á minha mente.

terça-feira, 29 de novembro de 2005

Essência

Estou só, mesmo estando acompanhada...
Estou só porque perdi a minha essência...
Espelho para fora o contrário do que se passa cá dentro...
Uso máscaras... Sorrisos, força...
Não sou isso... Sou choro, fraqueza...
Refugiu me... Não dentro da cama, não na varanda, não nas estrelas...
Refugiu me em pensamentos, em palavras nunca ditas, em acções apenas pensadas...
Procuro ignorar esta essência assustadora que me invadiu...
Não a tento entender... Não a tento conciliar... Apenas desejo e tento que desapareça...
Mas não desaparece...
Esta essência faz parte de cada pessoa... O Yin&Yang de todos... Escuridão/Luz...
Os opostos atraem-se, dizem... Então, porque a Escuridão não atrai a Luz?
Os opostos atraem-se, mas um não pode existir sem o outro...
Repudio um, mas ao repudiá-lo, nego o outro...
Mas não quero a Escuridão... Não quero ser dominada por ela...
Perdi a minha essência ao negar a Escuridão... Agora foi me vedado acesso à Luz...
Não sou Escuridão, não sou Luz...
É esta a minha essência... Ser Nada...

segunda-feira, 28 de novembro de 2005

Palavras

As palavras soam me ocas... Desprovidas de sentido...
Pode se dizer tanto apenas com uma palavra, e ao mesmo tempo nada...
O que me dizes, o que procuras que seja...
"Estou contigo", "Não sejas como um caranguejo"...
Tudo me faz sentido. As tuas palavras fazem sentindo...
Entram, ressoam dentro do meu cérebro, dentro de mim...Magoam...
Mas a vozinha a sussurrar ao meu ouvido continua...
Ela tenta anular tudo o que me dizes...
As palavras que proferes, embora brutas e por vezes cruéis significam muito...
Mudei, mas agora perdi me...
Não sei onde me encontro...
Não sou caos, não sou cosmos...
Não sou nada...
Não quero ser cosmos... Não é a minha natureza...
Não quero ser caos... Já o sou à bastante tempo...
Perdi me no meio do caos, procuro o cosmos... Procuro a luz, procuro o sorriso...
Só agora, quando me perdi é que percebi... Não posso procurar... Tenho de deixar que a luz, o sorriso nasçam em mim... Que o cosmos me encontre...
Mas tenho de ter acção para ser encontrada... Que acção? Para onde me virar?
Tudo o que vejo à minha volta é escuridão com luzes ao fundo... Não sei para onde seguir... A luz que seguir decide se sou encontrada pelo cosmos, ou se regresso ao caos...
Tenho medo... O medo paralisa me...
A vozinha continua a sussurrar, e não permite que a força venha...
Escondi a minha força, e agora que mais preciso dela não a encontro...
Sem força paraliso...
As tuas palavras fazem sentido, as minhas soam me ocas...
Faltam palavras para me exprimir...
Volto me para o silêncio...
Este destrói, mata, perpetua o caos...
Não me abandones, a não ser que não aguentes mais...
Ajuda me a ser caos e cosmos, equilibradamente...
Ajudemo-nos mutuamente...

domingo, 27 de novembro de 2005

Alguém me escreveu o seguinte, há uns tempos atrás:

"A única forma de se conseguir ser livre, e que os outros não nos sufoquem, começa em nós.A liberdade e a alegria conseguem-se quando nos perdoamos a nós mesmos, por tudo o que fizemos, não aos outros, mas sobretudo a nós.Se vivemos numa sociedade que nos coloca tanta culpa, devemos ser os primeiros a nos libertar da mesma."

Nunca mais pensei no que me foi dito por esta pessoa... Hoje decidi partilhar com vocês...
Espero que todos caminhem para a liberdade e alegria...

sábado, 26 de novembro de 2005

Gaja...

O espaço, o tempo, a distância criam barreiras... Não criadas por nós, mas por mim. Criei barreiras á volta de mim, do meu mundo e do meu coração...
Escrevemos tanto, mesmo quando estavamos juntas todos os dias. Tenho saudades dessa altura. Vim para aqui e o contacto, apesar de mais espaçado, continuou. Até que parei de responder... Deixei de escrever, inventei desculpas... "Agora são as frequências", "Tenho muitos trabalhos para entregar", e desliguei, distanciei-me ainda mais...
Desinteressei-me pela vida e pelos poucos amigos que deixei aí e fui substituí-los por outras pessoas aqui. Merecias mais... Não é possível substituir-te... Não é possivel esquecer-te... Não o quero e nunca o tentei fazer... Mas as minhas acções diferem dos meus pensamentos...
Estiveste sempre lá quando precisei, mas não sinto que tenha feito o mesmo contigo. Detestei as nossas últimas conversas de café... Não passaram disso... Conversas de café... Sinto que te devo algo, não sei o quê... Visito o teu blog, e penso em comentar, apenas para dar sinais de vida. Mas o que comento?? Foi nessas visitas que tive uma revelação...
Descobri que te passei a desconhecer... E tu, só me conheces nas piores fases... Desconhecer uma pessoa que consideramos amiga é a pior sensação do mundo...
Nunca estou aí, distancio-me, afasto-me o mais possível tentando esquecer o que não é possível de ser esquecido... Faz hoje dois anos que demonstras-te ser a pessoa mais espectacular à face da terra... E o que fiz eu durante estes anos? Ignorei-te, e só entrei de novo em contacto quando não podia estar com os teus "substitutos" daqui...
Não entendo o porquê do que se passa entre nós... Não gosto de pensar que vou estar contigo e que vou olhar para ti sem saber o que dizer... As ideias existem, a voz é que não sai... Fecho-me na tua presença, apesar de seres a pessoa com a qual isso menos deveria acontecer... Não percebo... Não sei o porquê da distância criada por mim... Sinto que agora já nada posso fazer...
Por isso aqui te escrevo, apenas para dizer que o silêncio mata, mas eu não quero que o existia entre nós morra.

quinta-feira, 24 de novembro de 2005

Viagem

Penso...
Ausento me para universos paralelos, espaços só meus...
Inicio uma viagem acordada em que visito mundos estranhos, distorcidos...
Quanto mais viajo, mais mundos vejo... A realidade vai ficando para trás...
Aqui não existe lei, ordem, lógica... Apenas caos...
Cada novo mundo por onde passo, é mais escuro, mais estranho, mais distorcido que o anterior.
Inicia-se o turbilhão...
Desconheço estes mundos...
Desconheço estes universos paralelos...
Já estou a meio da viagem quando, como uma luz no meio da escuridão me apercebo, estes mundos pertencem-me...
As minhas entranhas gritam...
Desconheço o meu interior...
A realidade gira à minha volta...
Tudo o que é real me atordoa...
A realidade torna-se mais escura... Mais distante...
Como podem estes universos fazer parte de mim?
Tento fugir... Não consigo...
É inevitável esta viagem...
Mas não me sinto preparada para a continuar...
A realidade grita por mim.
Tenho de voltar...
Tenho de regressar antes que a saída de emergência desta viagem se encerre...
Tento desligar...
A cabeça, a viagem, o turbilhão, os mundos... Tudo me chama...
Esta viagem fugiu do meu controlo e não quer parar... Será que algum vez tive o controlo??Tenho de ter força...
Tenho de regressar...
Isto tem de parar... Mas não pára!
Nunca vai parar...
Espera mundo real... São só mais uns minutos...

terça-feira, 22 de novembro de 2005

Arte do silêncio

Há uns tempos atrás alguém me veio falar da "arte do silêncio"...
Pensei nela, li o que foi escrito sobre essa "arte" e então acordei...
Durante estes últimos anos que tenho eu feito?? Tenho dominado essa mesma forma de arte, que recuso e nego... A mesma forma de arte que abre barreiras, cria distâncias... Este blog não é nada de especial, são as minhas "caramelices", as minhas divagações... Apenas aqui escrevo para dizer que não quero manter o silêncio... Não quero aumentar ainda mais as distâncias...
Sei que a Internet é um instrumento útil, poderoso... Mas não é a melhor forma para me redimir-me... Neste momento é a única ao meu alcance...
Por isso, para os amigos, aqui fica este post... Chega de silêncios eternos, de olhares que não dizem nada... Chega de distâncias... Afastei-me, mas agora não o quero fazer mais... O passado é passado, não poderá ser esquecido, mas poderá ser alterado no presente e no futuro.
Espero que entendam do que aqui falo...